segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Justinho


Quero ser justo e acariciar seu cabelo,
Justamente como fazíamos todas as noites,
Mesmo nas noites longes,
Do pensar, do sentir, do amar.

Quero ser justo,
Bastar-te, caber em você,
E você ver, reconhecer,
Que não há vazio nenhum a ser preenchido.

Quero ser justo,
Deixar com que esse amor se justifique,
Na justiça da irrealidade, da ilusão,
Eu até deixo, iluda meu coração.

Eu só te peço, seja justo.

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Nus


Como o que foi dito não volta, eu confio.
Nos perdemos.
Não foi quando eu disse que gostava de indie e você de pop,
Não foi quando eu quis cerveja e você chandon,
Não foi quando eu chorei e você sorriu,
Foi agora, aqui.
Você lá, eu cá e, no meio dos dois, o descrédito
Foi ontem, sem um olhar,
Ou anteontem, igualmente vazio,
Nos perdemos no dia em que nos encontramos.

terça-feira, 2 de outubro de 2012

Eu sinto


A minha mão feia, de unhas roídas, sente falta da sua.
Minha mão sente falta de alisar sua cabeça e, na mesma hora, ser censurada
"Meu cabelo, não", você dizia com um sorriso sem graça.
Meus olhos sentem falta de observar você indo embora
Tentando correr mais do que o ônibus, tentando te seguir, te proteger.
Eles sentem falta também de te olharem de cima, de não olharem para os seus, mas sim,
Olharem diretamente para o seu sorriso. Ah, aquele último sorriso...
Sinto falta do meu perfume. É, isso mesmo... do meu perfume. Parei de usar,
Não tinha mais você pra elogiar, então, pra quê perfume?
Sinto falta da ansiedade, da agonia, dos 30 minutos que você sempre atrasava,
Sinto falta de tanta coisa.
Sinto falta de saber que você também sente.

domingo, 16 de setembro de 2012

Cada um no seu cada qual


Cada um pro seu lado,
Eu de cá, querendo te atingir,
Você daí, fugindo de mim,
Mas querendo estar perto.

E aí, o final que passou e a gente faz durar
Inconscientemente querendo voltar,
Mas, em toda racionalidade do mundo,
Cada um no seu cada qual.

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Foto-grave


Alinha teu corpo com o sol e deixa que devagarzinho, fingindo não querer, eu fotografe sua alma. Foto-grave seu amor, seus medos, sua dor.
Na foto, sem cor e nem alma, fiquem apenas os rabiscos da agonia e da incerteza.
Grave, meu amor, o que for ficar de bom do nosso dom de amar e esperar.
Esperar tudo passar, esperar a foto colorir e sorriso voltar.

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Em tudo falta uma parte

os sapatos jogados no chão
os livros fora do lugar
a cama desforrada
o travesseiro que falta
um cobertor todo meu
a pele que não gruda
só o som da minha respiração
dormir a noite toda
não acordar pra te observar
a falta dos seus olhos castanhos
o seu "não"

quarta-feira, 18 de julho de 2012

Dor errada


Se até a dor, que é castigo, dói no lugar errado, a quem condenar?
Dói no lado oposto, no lado onde deveria haver calma.
E intriga. Claro, só ao dono do peito.
O dono real, não o dono de direito.

domingo, 15 de julho de 2012

Outro


Decido por dar um tempo nas aliterações,
Nas nostalgias cansadas e nas lágrimas, agora, um pouco sem verdade. 
Decido por ver o mar todas as manhã, 
Decido por passar em frente ao museu das pedras e ir ao cinema pouco frequentado.
Decido curtir aquele frio que temi 
Esperar por outras mensagens, outras ligações. 
Decido por outro. 
Não outro você, nem outro de você. Outro, sim, outro d'eu e você.
Não mais que outro.

segunda-feira, 2 de julho de 2012

Sobre os santos e a chuva


Eram dedos apontados para o céu. Não havia norte, não havia nuvém. O sertanejo, coitado, cansado de reviver a mesma história. Cansado de ser Baleia, morto covardemente, sonhando com o céu e suas préas. Cansado de ser homem pequeno. Abatido a cada verão que não terminava. Era verão no céu, e quando não era, no verão ele pensava. Tremia, temia.
Os santos, estáticos, de barro, gesso e, sem dúvidas, recobertos de fé. Observavam, olhando fixamente para o mesmo lugar, sempre. Sem pestanejar, sem se comover. Sem chover.

E a chuva, desacredita, sem prece, sem fé... nada.

sábado, 23 de junho de 2012


Esses dias parecem anos. Sem fim, sem feriado, sem final de semana. Dias sem fim.
Talvez eu recomece. Tudo igual. Desde o amor velado até o gostar medieval.
Mas não há reconstrução. Nunca há.
Nesse mundo há de ter outro inteiro, igual a você, igual a mim.

quarta-feira, 13 de junho de 2012

Nome sem complemento


Na cínica reconstrução das vontades ele insistia.
Todo dia, noite até, ele revia as memórias e os contratos,
Tudo quebrado, rasgado, inválido.
Espalhava os restos ao redor e, na tentativa mais vã, tentava colar.
Colava dedos, mãos e pés, mas não memórias.

Agora eram todos sujeitos sem predicados,
Textos sem pontos de continuação
E o medo de aquele que lá existe, ser final.
E o que falar das eternas reticências que ficaram entre os "e"?
Sem métrica, rima, ou as já cansadas dêixis.
Todo texto queria ser impessoal.

Era um nome sem complemento.

quarta-feira, 9 de maio de 2012

Parabéns


Parabéns ao avião que caiu
Parabéns ao prédio que ruiu
Parabéns ao muro que desabou
Parabéns, meu amor,
Parabéns por tudo que acabou.
Comemorem soldados, a guerra terminou
Comemorem alunos, as aulas também terminaram
Comemorem escravos, vocês estão libertos
Comemore, mundo
Comemore o outro.

terça-feira, 24 de abril de 2012

Ninguém


Ninguém me ligou,
Ninguém mandou mensagem,
Nem mesmo um frio e-mail.
Ninguém perguntou como foi a noite,
Se o sono foi tranquilo ou se somatizei tudo isso,
Ninguém entregou meu jornal,
E nem eu me dei ao trabalho de procurá-lo.
Não chegou hoje.
Ninguém precisou falar, mas eu senti. Eu previ.
Só eu senti falta.

domingo, 15 de abril de 2012

Reconhecer

Padeço na ansiedade de viver tudo novamente,
O reencontro é como se fosse sempre o recomeço,
É reconhecer o que há de bom em ter, em ser, em viver.
Esse amor sem experimentação,
Sem ensaio.
Foi feito assim, ignorando as regras do pragmatismo Europeu,
Amoderno, é verdade, mas já aviso, de laço fortes.
Medieval na pureza e na beleza.

sábado, 31 de março de 2012

Preâmbulo

O mundo está farto de amores velados. Falta, na verdade - ou na minha verdade - a construção despretensiosa de algo que vá além da sinestesia habitual. Cheirar, beijar, abraçar, querer... Só isso? Queria perceber o olhar acanhado, o medo da entrega e a ilusão perene de que tudo, redundantemente, perdurará.
 Mas tudo é inconstância nesse preâmbulo visto, revisto e, por todos nós, já revisado e sofrido.

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

ficar

trago na ânsia do amanhã
a vontade que há de vir
e ficar.

morar
descansar
acalmar
e ficar.

o "não" que não é dito
a permissão que não falta
a vontade de amar
e ficar.

tornar sagrado
resplandecer
nascer
e ficar.

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Ritual

Todo dia tem de terminar assim? Só, nesse quarto pequeno, nessa cama desforrada?
Esqueço de toda singularidade das horas anteriores e escolho sofrer o ardor do meu próprio silêncio. Toda dor silencia.
Tudo é silêncio, para que, no dia seguinte, logo ao amanhecer, deite sobre o meu corpo, o som que eu escolher. O som que eu eleger como som do meu dia! E dessa forma, quebrando o desagradável companheiro, eu possa acordar e - verdadeiramente - acordar.
Recomeçar todo o ritual: Viver, sorrir, amar, cansar, silenciar... relembrar!