Cego amor, tolo amor, viciaste a minha vista
Ela olha, mas não vê o que pensa estar vendo.
Confunde-a com fieldade: o bom mau fica sendo
Se a vista assim falscia á força da aparência
Qua a criatura humana onde sempre fingindo,
Por que á vista infiel tens dado tu a potência
De do meu coração ver no juízo influindo?
Por que meu coração tem por seleto meio
O que ao meu coração não é meio seleto?
Ou não diz minha vista o que vê e , porque a creio,
Em tudo o que é primior põe máscaras do abjeto?
Minha vista e, também, meu coração, viciados,
Sofrem do próprio vício, agora, os desagrados.
- William Shakespeare
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